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Butantan aponta que mais 23,4 milhões de brasileiros poderiam ser vacinados caso Saúde fechasse acordo em outubro

Publicada em 27/05/21 às 17:52h - 621 visualizações

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Butantan aponta que mais 23,4 milhões de brasileiros poderiam ser vacinados caso Saúde fechasse acordo em outubro
 (Foto: TV FF )
BRASÍLIA — O Brasil poderia ter recebido doses da CoronaVac suficientes para vacinar mais 23,4 milhões de pessoas caso a proposta do Instituto Butantan tivesse sido aceita em outubro de 2020 pelo Ministério da Saúde, apontam números apresentados pelo diretor do órgão, Dimas Covas, que presta depoimento nesta quinta-feira na CPI da Covid. Segundo Dimas, as ações e declarações do presidente Jair Bolsonaro contrárias à Coronavac inviabilizaram as negociações na época. Se o contrato tivesse sido firmado na ocasião, disse ele, seria possível garantir um total de cem milhões de doses até o primeiro semestre de 2021.

O contrato foi firmado apenas em janeiro. De lá para cá, segundo o último cronograma do Ministério da Saúde, divulgado na quarta-feira, foram distribuídas 47,2 milhões de doses da CoronaVac — o que não significa que todas tenham sido aplicadas, uma vez que uma parte pode ser guardada para aplicação da segunda dose. E há a previsão de mais 6 milhões em junho. Cruzando os números mostrados por Dimas e os disponíveis no site do Ministério da Saúde, o país poderia ter 46,8 milhões de doses a mais se o cronograma inicial do Butantan tivesse se confirmado. Como são necessárias duas doses para imunizar alguém, seria o suficiente para 23,4 milhões de pessoas.

— Mudou completamente cronograma, quer dizer, se nós tivéssemos a assinatura dos contratos, com um quantitativo maior de cem milhões, o cronograma seria outro, como eu mencionei, não é? Poderia ter sido cumprido até maio, mas isso se houvesse a sinalização lá em outubro. Em janeiro já existia escassez mundial de vacinas. A própria Sinovac [o laboratório chinês que desenvolveu a CoronaVac] já tinha contratos com o governo da China, já tinha contratos com outros países, e nós entramos numa outra negociação — disse Dimas.

Randolfe então questionou:

— Nós teríamos essas cem milhões de doses agora, para o primeiro semestre?

Dimas respondeu:

— Nós teríamos. Se fosse firmado lá em outubro, teríamos o primeiro contrato de cem milhões de doses.

—  Ou seja, nós poderíamos estar chegando em maio ou junho com a imunização de 50 milhões de brasileiros? — questionou Randolfe.

— Exatamente — afirmou Dimas.

Em 20 de outubro do ano passado, o então ministro da Saúde Eduardo Pazuello anunciou a intenção de compra de 46 milhões de doses do Butantan. A oferta do instituto incluía um total de cen milhões até o primeiro semestre de 2021. Mas, um dia depois, Bolsonaro desautorizou Pazuello e anunciou que a Coronavac não seria adquirida.

— Aí, no outro dia de manhã, ainda existiriam conversações adicionais. Infelizmente, essas conversações não prosseguiram, porque houve, sim, aí, uma manifestação do presidente da República, naquele momento, dizendo que a vacina não seria, de fato, incorporada, não haveria o progresso desse processo. Óbvio que isso causa, sem dúvida nenhuma, uma frustração da nossa parte, mas, enfim, faz parte. E voltamos ao Butantan e continuamos o projeto, quer dizer, isso não foi motivo para nós interrompermos o desenvolvimento da vacina, mas aí já com algumas dificuldades, ou seja, a inexistência de um contrato com o ministério, que é o nosso único cliente, colocava, de fato, uma incerteza em termos de financiamento. E nós já tínhamos contratado com a Sinovac parte importante desse projeto — avaliou Dimas.

— Nós estávamos trabalhando juntamente com todos os setores do ministério para, inclusive, encaminhar uma medida provisória para dar sustentação orçamentária aos nossos pleitos e, após o dia 20 de outubro, isso foi absolutamente interrompido, quer dizer, não houve o progresso dessas tratativas. De fato, eu nunca recebi um ofício dizendo que a intenção de compra feita no dia 19 não era mais válida, mas, na prática, não houve consequência. Quer dizer, a consequência foi o contrato no dia 7 de janeiro e, mesmo assim, uma consequência em detrimento, vamos dizer assim, de outras iniciativas que não deram certo — acrescentou.

Dimas relatou ainda que, antes da proposta de outubro, foi feita outra em julho com a promessa de entregar 60 milhões de doses em 2020, mas não houve resposta. O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) somou então o número com as doses oferecidas pela Pfizer em agosto. À CPI, o executivo da Pfizer Carlos Murillo relatou que o governo federal também não respondeu a empresa.

— A informação que Vossa Senhoria traz para a comissão, de que o Butantan poderia viabilizar 60 milhões de doses, somada à informação que trouxe o CEO da Pfizer, de que 4,5 milhões poderiam ter chegado neste mesmo prazo, [1,5 milhão] no final de 2020, e 3 milhões de doses em [janeiro, fevereiro e março de] 2021. Significa que nós poderíamos ter o dobro de brasileiros vacinados. Esse é o tamanho do desastre. São centenas de milhares de brasileiros que não precisariam ser internados, milhões de brasileiros que não seriam contaminados — disse Alessandro Vieira, em referência à oferta de julho.

Vieira ressaltou ainda que o desenvolvimento da CoronaVac foi "sistematicamente sabotado" pelo governo federal.

— Fica claro que a tomada de decisão do Ministério da Saúde, do próprio presidente Jair Bolsonaro, foi no sentido contrário daquilo que a ciência recomenda: valorizar a vacina, o isolamento e todas as medidas cabíveis. (...) A gente compreende agora que o desenvolvimento da Coronavac foi sistematicamente sabotado pelo governo federal. Isso é fato, é provado. As ofertas chegaram e foram recusadas. Chegaram os pedidos de investimento e não foram atendidos e foram atendidos para outros fornecedores por critérios que não são técnicos — disse Vieira.

A vacina ButanVac, desenvolvida pelo Butantan, deve ficar pronta ainda neste ano. Se aprovada, será uma alternativa de imunização para o Brasil e países pobres. Perguntado sobre o estágio de desenvolvimento do imunizante, Dimas Covas respondeu:

— ButanVac é uma outra vacina, que tem um potencial muito grande. Primeiro, pela tecnologia que usa, de ovos embrionários, que é a mesma da vacina da gripe. (...) O que nós estamos desenvolvendo aqui é uma vacina para o mundo.

Quase no final da sessão, questionado pelo senador Ângelo Coronel (PSD-BA) se houve estímulo do governo federal para o desenvolvimento de vacinas, Dimas disse que, no caso da CoronaVac, isso não ocorreu.

Até quarta-feira, 43,5 milhões de pessoas receberam a primeira dose de um imunizante, de qualquer marca, o equivalente a 20,54% da população brasileira. A segunda dose da vacina, por sua vez, foi aplicada em 21,4 milhões de pessoas, ou 10,12% da população nacional. A maioria recebeu a CoronaVac. Os dados são do consórcio formado por O GLOBO, Extra, G1, Folha de S.Paulo, UOL e O Estado de S. Paulo e reúne informações das secretarias estaduais de Saúde divulgadas diariamente até as 20h. 

Com Informações do G1



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