BRASÍLIA, RIO E SÃO PAULO — O presidente Jair Bolsonaro dobrou a aposta golpista e fez na terça-feira os mais contundentes discursos antidemocráticos contra o Supremo Tribunal Federal (STF). Após mobilizar manifestações em 179 cidades no feriado de 7 de setembro e atacar mais uma vez o sistema eleitoral brasileiro e as medidas restritivas adotadas por governadores no combate ao coronavírus, Bolsonaro mirou o ministro Alexandre de Moraes em falas para milhares de pessoas em Brasília, pela manhã, e São Paulo, à tarde. Na Avenida Paulista, em cima de um carro de som, o presidente chamou o magistrado de “canalha” e disse que não irá mais cumprir suas decisões judiciais.
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Os movimentos do presidente ampliaram o seu isolamento político. Os ministros do STF se reuniram ontem depois dos atos e acertaram que o ministro Luiz Fux fará pronunciamento para hoje sobre a crise política. Entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) reagiram à possibilidade de não cumprimento de decisão judicial por parte do presidente. Juristas apontaram o cometimento de crimes pelo presidente em seus discursos. Pela primeira vez, a defesa de abertura de um pedido de impeachment passou a ser cogitada por partidos de fora do campo da esquerda, como o PSDB, que informou estar disposto a debater a hipótese.
Míriam Leitão
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A alguns interlocutores de sua confiança, o presidente Bolsonaro havia prometido usar dois tons nos discursos. Seria mais forte em Brasília e menos em São Paulo. Fez o oposto. Foi beligerante nos dois, mas muito mais em São Paulo. O radicalismo assustou até aqueles políticos que pensavam ser possível montar uma ponte entre o presidente e os outros Poderes. Por isso o MDB falou em impeachment, o PSDB tenta superar suas divisões para defender o impedimento, o PSB, desde a véspera, já não descartava essa hipótese. Nos bastidores da política, PP, PL e Republicanos estão se queixando muito das atitudes do presidente. “E essas queixas são o primeiro passo” — afirmou uma fonte política. Uma fonte militar me disse: “O tom foi muito além do necessário, não se faz uma Nação avançar na anarquia.” No fim do dia, Bolsonaro estava mais isolado.