RIO — O que nas fases críticas da pandemia parecia improvável a curto prazo — a alta do último paciente com Covid-19 no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, Zona Norte, referência para tratamento da doença no Rio — vai ocorrer na tarde desta segunda-feira, segundo previsão da Prefeitura do Rio. É o último passo de uma maratona enfrentada pelos profissionais de saúde da unidade, que, só este ano, cuidaram de cerca de 10.800 pessoas contaminadas com o coronavírus. Das enfermarias e UTIs abarrotadas ao cenário de apenas sete internados com a Covid na última quinta-feira, a mudança é drástica. E, desde o fim de setembro, permite uma transição para que, em vez da dedicação exclusiva à demanda da crise sanitária mundial, a unidade ponha seus 420 leitos e seu parque tecnológico modernizado a serviço de pacientes com todo tipo de patologia.
Questionamentos sobre flexibilização: Especialistas se dividem sobre a liberação do uso de máscaras em áreas abertas
O atendimento ambulatorial já foi retomado, e quase a totalidade das vagas de internação tem sido regulada para aqueles sem a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Ainda este mês, o centro cirúrgico deve ser reaberto e, no início de dezembro, será entregue à população um centro de reabilitação pós-Covid, destaca a direção do hospital.
Para o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, não há sombra de dúvida que a vacinação e a adesão dos cariocas à campanha operam essa volta por cima. Dos sete pacientes com Covid na quinta-feira, ressalta ele, um único tinha o esquema vacinal completo.
Enquanto isso, no ir e vir dos corredores do Ronaldo Gazolla, onde profissionais repetem que os últimos 20 meses parecem ter durado vários anos, de tão desgastantes, a coordenadora de enfermagem Joyce Nogueira resume a sensação atual: é de dever cumprido.
— É como se pudéssemos respirar, ainda que de máscara. Os plantões estão mais leves, sem aquele medo pelos pacientes, por nós e também por nossa família, que temíamos contaminar — afirma ela, desde março de 2020 na linha de frente contra a Covid.
Cirurgias eletivas
Diretor da unidade, Roberto Rangel não perde da memória as inúmeras vezes que assistiu, da janela da sua sala, num dos principais acessos ao hospital, à avassaladora dor de famílias que recebiam a notícia da morte de um ente querido. Hoje, começar o dia de trabalho sem um único óbito registrado na noite anterior é uma injeção de otimismo. Com base nessa nova perspectiva e numa análise epidemiológica da pandemia, diz ele, foi possível iniciar gradativamente a mudança do perfil do hospital. Para o médico, é como “começar do zero”.
— Os investimentos para enfrentar a pandemia vão deixar um hospital revitalizado. Antes, ele nunca tinha chegado perto de sua capacidade operacional, tendo tido no máximo 240 leitos. Agora, vamos manter o Ronaldo Gazolla com seus atuais 420 leitos, 240 apenas de CTI. A transformação deles para atendimento de outras patologias é complexa. Querendo ou não, ficamos quase dois anos trabalhando uma única doença. Estamos revendo todos os processos, protocolos e dimensionamentos — explica Rangel, afirmando que será mantida a equipe técnica de 3.500 funcionários.